Os corrimãos que circundam a praça, além de sua função principal de evitar acidentes, servem como apoio para mercadorias, como um local para as pessoas se apoiarem enquanto esperam o sinal abrir, como um local para apoiar bicicletas, dentre outras funções, ou seja, são uma forma polivalente, que possibilitam diversos usos sem a necessidade de mudar a estrutura original.

CALÇADÃO LESTE RUA DOS CARIJÓS
O calçadão leste da Rua dos Carijós é um trecho exclusivo para o trânsito de pedestres. Ele representa uma boa articulação entre o espaço público e o espaço privado por meio dos comércios que utilizam a rua para colocar mesas e cadeiras. Nessa situação, podemos ver a relativização entre público e privado e como isso muda a percepção do usuário sobre a responsabilidade de manutenção desses lugares.

RUA ESPÍRITO SANTO
No quarteirão da Rua Espírito Santo é possível observar outros aspectos que se relacionam com o livro. Ao falar do espaço habitável entre as coisas, Hertzberger chama atenção para as irregularidades da cidade que ganham novos usos e articulações através da vivência cotidiana. Assim, qualquer superfície plana disponível tende a ser usada como bancada, apoio, assento ou encosto, explorando ao máximo as possibilidades de uso desse espaço. Contudo, ele também diz que, muitas vezes, esses novos usos cotidianos desagradam e, por isso, são desenvolvidas maneiras de evitá-las, o que seria a chamada Arquitetura Hostil, ainda que ele não use essa expressão no livro. Isso pode ser observado na seguinte superfície no cruzamento entre o calçadão e a Espírito Santo.
Também podemos perceber as demarcações territoriais definindo graus diferentes de acesso. A primeira imagem mostra a fachada de um banco com vidro fumê refletivo, o que passa a sensação de um acesso mais restrito quando comparada com a demarcação da segunda agência, que usa vidros transparentes na fachada.
Hertzberger disserta a respeito de construir uma janela para o mundo e de trazer o exterior para dentro, e, nesse caso, a cortina de vidro que fecha o térreo do prédio e acompanha o movimento da esquina parece desempenhar bem o papel de criar uma interface entre o interior e o exterior.
As entradas dos edifícios abaixo mostram diferentes graus de articulação entre público e privado. O primeiro edifício tem os mesmo espinhos hostis na bancada das jardineiras, um material brilhante e grades nas portas, uma configuração que contrasta bastante com a acessibilidade da rua. Então, é uma demarcação bem clara do espaço privado. Já o segundo edifício, ainda que tenha vidro cercando-o, tem uma entrada mais gradual. Essa sensação se dá pelo uso do mesmo material na calçada e no pavimento desta entrada, representando uma continuidade do público - a calçada - para o interior desse espaço privado. Além disso, a portaria mais ao fundo e a vegetação também tornam a transição público-privado mais suave. Um outro aspecto dessa construção é a rampa íngreme de entrada-saída do estacionamento que Hertzberger cita como um exemplo de solução que é muito específica e que muito dificilmente se adapta a novas situações de uso, ou seja, não é polivalente.

Saindo da Espírito Santo e continuando na Afonso Pena, chegamos até o quarteirão triangular entre essa avenida, a Rua Bahia e a Rua Tamóios. Nela existe a passagem Y, uma galeria criada a partir de um anexo entre os prédios Sulacap e Sulamérica. Originalmente existia um vão entre esses prédios que era preenchido por uma praça.
Analisando segundo Hertzberger, o projeto original dos edifícios era um bom exemplo de articulação entre o público e o privado: os prédios de uso misto, residencial e comercial, eram estruturas essencialmente privadas, mas que dialogavam muito bem com o espaço público por meio da praça entre eles, que era usada como um lugar de passeio, além de proporcionar uma conexão visual entre a Avenida Afonso Pena e o Viaduto com a outra parte da cidade. Entretanto, a construção do anexo entre eles acabou “abafando” esse espaço público e aumentou o caráter privado do conjunto, pois a galeria só pode ser utilizada pelos pedestres em horário comercial e não é tão polivalente e convidativa quanto a antiga praça.
VIADUTO SANTA TERESA
O viaduto em si é o início de uma área(Praça Rui Barbosa,
Boulevard Arrudas) com pouco aproveitamento dos espaços.
A saída do ponto em Y traz duas questões relacionadas ao
livro muito interessantes. A primeira é que a estimulação da influência do usuário
para que ele se envolva se necessário no espaço e como isso está fortemente
conectado ao grau de acesso do espaço. A saída do ponto em Y funciona, apenas,
em horário comercial, então os usuários são privados desse acesso quando os
portões de grade de fecham e de certo modo a pichação demonstra essa revolta, a
falta de envolvimento porque não houve uma afeição desenvolvida. A segunda
questão é que um indivíduo precisa de algo privado(meu) tanto quanto do grupo,
mas quando ele não tem isso, não há colaboração com os outros. “Se você não tem
um lugar que possa chamar seu, você não sabe onde está!”, logo não sente
responsabilidade sobre aquilo.

O parque municipal me trouxe muito aquele conceito de
“intervalo”, mesmo que de uma forma um tanto distorcida. Porque ele remete a
essa questão de dualidade. O intervalo deveria ser um meio termo entre o
público e o privado (sobreposição de dois mundos), mas nesse caso vem com certa
irônia porque ele é primordialmente público(qualquer um tem direito ao acesso),
só que não passa essa noção de integralização e acessibilidade, por causa das
grades o cercando causa impressão de restrição, algo privado. Então ele tem
essa dualidade por ser os dois “mundos ao mesmo tempo”, mas não da forma
como Hertzberger sugere.

O livro aborda muito a questão de projetar espaços onde as
pessoas se sintam pessoalmente responsáveis por eles trazendo aspectos onde
elas possam se relacionar e criar conexão com esse espaço. Em Belo Horizonte
falta muito dessa trama de um ponto de vista projetista. Tanto que o
entrelaçamento entre urdidura e trama muito das vezes só acontece por ser
forçado a passagem. O grafite reflete muito isso, ele é reflexo do povo, como
um grito a muito ignorado, é como parte da população se força a ser ouvida por
aquales que querem ignorá-la. O espaço “produz um sentimento generalizado de
alienação”.
“O tema estrutural correto não restringe a liberdade, mas
conduz à liberdade!” Esse prédio à esquerda do início do viaduto é um exemplo
de dois sistemas em condições de liberdade um do outro. Uma gradação de
demarcação territorial acompanhada pela sensação de acesso.
A primeira coisa que veio à mente ao olhar essa imagem foi
polivalência e como aqui ela poderia ter funcionado de modo mais amplo. Pois,
apesar dela provocar reações específicas, elas não estão adequadas a situação. Não
há um acesso direto para o gramado lá embaixo, não há incentivo de uso a esse
gramado(ele foi deixado de modo muito flexivel).
SERRARIA SOUZA PINTO
Logo no início do livro, Hertzberger discute a respeito do público e privado, e analisando esse espaço conseguimos perceber muito bem essas demarcações, a serraria é um local privado. Já do lado de fora, em baixo do viaduto, as ruas, são locais públicos, é uma área acessível a todos a qualquer momento e a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente.
Vemos Hertzberger falar também sobre as modificações de estranhos a um ambiente e traz como exemplo uma sala de aula no capitulo "De usuário a morador", onde ele aborda que se uma sala de aula for usada para outras finalidades fora do horário escolar pode ocorrer a mudança do local de objetos que já estavam previamente na sala, assim, trazendo aos usuários regulares da sala a sensação de perda em seu próprio espaço.
Conseguimos trazer essa ideia para o viaduto onde ocorre as batalhas de MC's e esta todo coberto de grafites, se a prefeitura chegar e pintar todo esse espaço escondendo o grafite, o público que frequenta esse lugar pode se sentira deslocado, já que criou uma certa familiaridade com esse espaço.
No capitulo "Visão II", Hertzberger cita o uso do vidro na fábrica Van Nelle em Rotterdam, a qual sua fachada é majoritariamente composta por vidros transparentes o que permite plena visão tanto de quem está dentro quanto de quem está do lado de fora. Para ele a fábrica de tabaco Van Nelle, retirou toda a conotação anterior de desespero da palavra proletário. Não posso afirmar com total certeza que a intenção de quem projetou a serraria era exatamente essa, mas eu creio que seja essa sim, já que toda a fachada da serraria é coberta por janelas de vidros.

No capítulo "A Rua" Hertzberger ressalta que a rua é um lugar onde o contato social entre os moradores pode ser estabelecido: "como uma sala de estar comunitária”. Nós conseguimos ver esse contato social nas batalhas que ocorrem aqui debaixo do viaduto, onde as pessoas podem se encontrar. É um local de ponto de encontro para pessoas que gostam da cena do hip-hop, podemos relacionar esse evento também ao capítulo "Domínio Público", no qual Hertzberger fala que as ruas foram originalmente o espaço para revoluções, e podemos considerar esse evento como uma revolução, pois, muito das vezes esse grupo foi marginalizado e com esses eventos tem ganhado um certo respeito.
E para finalizar a análise trazemos aqui o capítulo ‘O espaço público como ambiente construído’ que fala que até o século XIX havia poucos edifícios públicos, esses espaços públicos estavam quase sempre ao ar livre, mas com a revolução industrial abriu um novo mercado de massa. A aceleração e a massificação dos sistemas de produção e distribuição conduziram a criação de lojas de departamento, exposições, mercados cobertos e a construção da rede de transporte público, com estações ferroviárias e de metrô. A serraria teve sua construção nesse local de forma estratégica, pois aqui vemos a estação de metrô, e a linha férrea da central do brasil, o que facilitava o transporte de matérias da serraria.